Rio das lágrimas

Após algum tempo caminhando, eles finalmente haviam saído da floresta. Uri avistou um rio e ainda puxando o ruivo, se aproximou. Guardou a adaga e voltou a olhar para ele.

- De nada. - Falou, encarando o mesmo. - Agora me explique uma coisa, qual sua raça? Eu sei que elfos são xenofóbicos, mas sair atirando para matar assim?

Aproveitou para retirar o manto novamente, guardando-o em sua mochila, e deixando as orelhas livres. Todo o problema de escondê-las havia passado.

O loiro saiu da floresta junto de Salatiel. No caminho, o jovem das orelhas de coelho lembrou o ruivo de sua ferida na mão. Era um problema que ele precisava resolver de imediato. Continuaram a caminhar até verem um rio. Nesse momento, Uri aliviou o medo do ruivo de ser cortado guardando a adaga. O demônio respira, parecia estar tudo bem agora.

"De nada."

Enquanto respirava e pensava em como ele poderia estar morto, Salatiel esqueceu-se de agradecer o loiro.

"Agora me explique uma coisa, qual sua raça? Eu sei que elfos são xenofóbicos, mas sair atirando para matar assim?"

Após um suspiro, o ruivo começa sua explicação.

- Bem, eu sou um demônio e saí do inferno por uma fenda recentemente. - Ele tá uma pausa, tirando um lenço de um dos bolsos do pijama. - Deve ser por isso que queriam me matar. Sou eternamente grato a você, garoto-coelho. Morrer de novo não deve ser divertido.

Ele põe o lenço encima da ferida e parecia que por um tempo iria ajudar.

- Me ajuda amarrando isso? - Salatiel estende a mão com o lenço para o loiro.

Uri acompanhava as expressões do ruivo, ele ainda parecia aflito, mesmo depois de sair da floresta. Talvez fosse a mão dele, que não parava de sangrar? Provavelmente. Ele até iria sugerir para eles sairem da região élfica juntos, quando o outro começou a explicar o porquê de ter sido atacado.

"Bem, eu sou um demônio e saí do inferno por uma fenda recentemente.  Deve ser por isso que queriam me matar. Sou eternamente grato a você, garoto-coelho. Morrer de novo não deve ser divertido."

Um demônio? Então era por isso. Pessoalmente, Uri nunca havia visto um demônio, mas tinha ouvido falar. Ele não tinha exatamente "problemas" com o fato do outro ser um demônio, mas ele estava realizando uma tarefa para um deus, e também, para ele ter ido para o inferno, definitivamente não era uma pessoa boa em vida.

- Olha... Não tenho problemas com você exatamente.- Ele começou, amarrando o lenço na mão do rapaz. - Mas... Eu não posso andar com um demônio. Espero que entenda.

Ele então, deu alguns passos para trás, se afastando do ruivo.

O ruivo esperou alguma ação do meio-humano, até que ele o fez.

"Olha... Não tenho problemas com você exatamente. Mas... Eu não posso andar com um demônio. Espero que entenda."

O loiro amarrou o lenço em sua mão e afastou-se logo depois. Aquilo entristeceu o demônio, mas ele apenas sorriu e aproximou-se do ruivo novamente, dando um beijo em sua testa.

- Não tem problema. Creio que eu já tenha te chateado um pouco de mais. Foi bom te conhecer, Uri. Era esse seu nome, né? - O ruivo se afasta do loiro novamente. Ele não queria causar incômodos no rapaz. - Acho que é agora que nos separamos. Espero esbarrar com você algum dia. Mas, por agora, não vou te causar mais problemas. Até mais ver~! - O ruivo corre na frente do meio-humano, e quando estava bem distante, acena para trás, despedindo-se do loiro.

Agora, precisava de alguma forma achar algum lugar seguro para passar o tempo. Esperava em Astaroth que nenhum elfo aparecesse de novo.

Uri ficou surpreso com o beijo na testa, sentiu as bochechas corarem e o rosto ficar quente. Acenou de volta para o demônio assim que ele se afastou. Espera, porque ele havia corado mesmo? Tanto faz. Devia ser coisa dos demônios.

- Preciso achar um caminho para Nering... Deve ser importante chegar a Levi logo. - Murmurou, olhando para o chão. Com quem ele estava falando? Nem ele sabia. Talvez com Gaia? - Mas acho melhor arranjar alguma comida primeiro. Estou com um pouco de fome.

O loiro então, começa a olhar a sua volta, em busca de uma árvore com frutas ou qualquer fonte de comida que não custasse as poucas moedas que tinha no bolso.

Salatiel

Inesperadamente o demônio havia ficado abalado pela rejeição, um seguidor de Astarote se deixou ser negado por um mero ser humano, se seu rei visse isso o demônio provavelmente seria punido. Se afastou do garoto e correu pela planície, estava seguro naquele lugar, poucos monstros o habitavam, poderia continuar sua aventura e ir para onde quisesse, mas teria de ir rápido pós já conseguia ver o céu escurecer com a chuva.

Sangramento estancado.

Hp total: 74

Uri

O jovem coelho estava finalmente livre da influencia diabólica de Salatiel, sabia no fundo de seu coração que nada de bom poderia vir de alguem que saiu do inferno, mas mesmo assim sentiu-se culpado quando viu que o demônio houvera ficado triste em ter de se despedir, estaria ele só fingindo? Pensou Uri, mas não importava, não podia cumprir sua jornada em nome de um Deus caso um demônio o acompanhasse.

O garoto era sagaz, por mais que quisesse sair por ai e explorar o mundo foi atrás de comida antes porque sabia que saco vazio não para em pé. Vasculhou as moitas que rodiavam o rio e tudo que foi encontrado um pequeno arbusto frutífero, mas ele já estava sendo utilizando por uma família de coelhos, ironia do destino? Uri teria de escolher tirar alimento de seus “semelhantes” ou ficar com fome e se esconder do frio.

Os céus estavam muito escuros e turbulentos uma tempestade estava por vir.

Aviso: Tempestade na área de Valsfar chega em 3 turnos.

Uri passou algum tempo procurando alimento, mas tudo que o garoto conseguiu encontrar foi um pequeno arbusto com frutinhas. Olhando de perto, notou que haviam alguns coelhos se alimentando ali. Era engraçado, e triste ao mesmo tempo. Ele teria que deixar eles com fome, para o seu próprio bem.

- Me desculpem. - Falou, pegando as frutas do arbusto. - Um dia eu pago vocês.

Após comer, o semi-humano notou que o céu havia escurecido. Era um sinal claro que iria chover, e não iria ser pouco. Ele levantou-se da grama onde havia sentado para comer e começou a olhar em volta, precisava de abrigo urgentemente, embora pudesse entrar em sua mochila, isso não o manteria seco e aquecido. Lembrou-se, por algum motivo, de quando vivia com seus pais. Sempre que estava chovendo forte e ele não podia brincar, sua mãe lia histórias para ele. Balançou a cabeça, para tentar afastar esses pensamentos. Ele tinha que superar aquilo, então, voltou a procurar um abrigo.

Havia escolhido o ato cruel de tomar comida de seus semelhantes, não tinha ninguém ao seu redor para julga-lo somente ele mesmo e talvez os deuses. Procurou por abrigo por alguns instantes, mas parecia que a área do rio era totalmente plana, não possuía nenhum tipo de caverna ou casa para se abrigar. Caso não saísse de lá teria uma tarde muito molhada.

O garoto havia procurado por toda a área a sua volta, mas não havia nada, nem sequer um lugar onde pudesse se proteger da chuva. Já estava aflito quando lembrou-se de que haviam duas rotas que ele poderia seguir : o rio ou a caverna.

- Melhor eu ir para a caverna. - Falou, olhando para o céu. - Pelo menos lá estarei seco.

Recolheu então suas coisas, e se dirigiu até a caverna. Embora odiasse lugares fechados, era a melhor opção que tinha.