Floresta sussurrante

A fenda dava para uma moita. Como assim? Aquilo não faz sentido nenhum. Fendas não deveriam surgir em moitas, mas sim, no céu, fazendo os invasores voarem até cair no chão majestosamente. Ao sair da moita, o ruivo nota que estava, novamente, um lugar desconhecido. Seria a terceira vez em sua "vida" que ele vai pra um lugar desconhecido. Só se via coisas verdes por todas as partes.

- Hm... Pode não ser tão ruim voltar ao mundo dos vivos.- fala para si mesmo. Tira o capuz do pijama, deixando a mostra seus longos e ruivos cabelos.

Caminha um pouco, admirando a paisagem a sua volta e procurando por algo que fosse interessante.

A floresta era uma coisa nova para o demônio “recém livre”, não sabia para onde ia ou oque o aguardava e isso o fazia se sentir excitado. no sentido não sexual da palavra. Outro mundo novo para explorar, oque essa nova aventura guardava para o jovem Salatiel? Uma flecha, é isso que guardava, uma flecha élfica passou do lado de sua garganta silvando pelo ar, o que o fez recuar um pouco. Não conseguia ver da onde veio o tiro, mas sabia que ficar parado ali não era a melhor das opções.

Infelizmente havia saído na floresta sussurrante, um lugar deveras hostil com pessoas de origem não élfica. Mas ele era um demônio, não iria temer uma dúzia de elfinhos com seus arquinhos bonitos. Olhou a sua volta e não viu nada além de arvores, vinhas e flores.

Exp por descobrir a floresta sussurrante: 25

Enquanto se maravilhava com a bela paisagem do lugar, o demônio foi surpreendido por uma flecha de origem desconhecida, mas desviou rápidamente. Olhou a sua volta e nada viu.

- Se tiver alguém aí, mostre-se. -  o ruivo fica mais atento ao que está ocorrendo a sua volta.

O homem anda lentamente na direção de onde parecia ter vindo a flecha, tomando cuidado para não fazer muito barulho ou denunciar a sua localização e afastar o atirador. Sua expressão era a mesma de sempre, mas, estava um pouco nervoso quanto a quem ou o que era seu inimigo. Salatiel estala seus dedos, preparando-se para a provável ameaça.

O demônio marchou bravamente em direção do perigo intimando o inimigo a mostrar sua face, com seu peito aberto para mostrar sua coragem procurou como um verdadeiro guerreiro. Mas tudo que foi encontrado fora outra flecha, dessa vez atravessando sua mão, bem distante da li, na copa de uma arvore ele pode ver um par de olhos e daquela mesma direção ouviu uma voz gritar:

- Saia daqui criatura torpe, Valsfar não é lugar para gente do seu tipo! – O sentinela no topo da arvore preparava outra flecha. – As duas ultimas flechas foram tiros de aviso, caso não recue a próxima irá atravessar um de seus olhos!
Desafiar o sentinela não seria algo muito sábio de se fazer, e a distancia era muito longa para conseguir contra-atacar, mas oque o bravo demônio fará?

Ainda andando cuidadosamente, o ruivo ouve um som. Era o som de mais uma flecha. Tentou desviar, mas infelizmente, a flecha atravessou sua mão. Olhou na direção do tiro e pode perceber que algo estava ali.

- Saia daqui criatura torpe, Valsfar não é lugar para gente do seu tipo! – dizia o ser, tentando tirar o demônio daquele lugar, aparentemente.

O ruivo puxa a flecha de sua mão, vendo o sangue escorrer por aquele membro.

A criatura vivente ali disse que as duas flechas que atirou eram apenas avisos, e preparava mais uma, que iria prejudicar a visão do demônio.

Salatiel para por alguns segundos, pensando no que fazer, e logo tem uma ideia, que era se esconder em uma das moitas do lugar, forçando o arqueiro a sair de seu lugar para procurar o demônio. Nesse momento, atacaria e desarmaria o ser. A flecha que o agressor atirou no ruivo seria a sua nova arma temporária.

O demônio sabiamente se escondeu em uma das moitas e esperou para que seu opressor viesse em sua busca, mas infelizmente o homem ou mulher que havia atirado as flechas nele, era um Sentinela Élfico, e nunca deixaria seu posto sem ordens de um superior. Mas pelo lado bom, nenhuma outra flecha foi atirada contra ele.

O demônio notou que seu plano foi um fracasso quando o ser não se moveu de seu lugar. Precisava pensar em outra coisa. Ficar ali poderia trazer graves ferimentos ao seu belo corpo, mas, antes de sair dali, precisava descobrir quem era o arqueiro.

Sua nova ideia era de provocá-lo e tentar subir na arvore ao mesmo tempo em que desviava das flechas que seriam atiradas. Sua vida estava em risco, mas, é o que dizem... "Curiosidade mata".

O demônio então se levanta da moita e grita para o ser da árvore.

- Hey, feioso~! Aposto que não consegue me acertar em movimento. ^^

O ruivo, nervoso com a própria ideia, hesita por um instante, mas logo, começa a correr em zig-zag. Mas, agora estava pronto para qualquer flechada que fosse levar, sabendo onde o arqueiro estava, seria mais fácil para desviar de seus tiros.

O Demônio, ardiloso como só ele, não deixaria aquele ferimento sair barato, teve a ideia mirabolante de provocar o sentinela e andar em zig-zag na sua direção, realmente funcionou por um tempo, as flechas dele não o acertaram, mas parece que a de um amigo dele sim, depois de ouvir um som como o de uma coruja, uma flecha veio por trâs de Salatiel e o acertou na panturrilha. Pelo visto a floresta sussurrante não tinha apenas um sentinela e talvez não tivesse só dois.

Vida perdida: 10 de hp pela flechada na mão, 25 de hp pela flechada na panturrilha. Graças ao movimento a ferida na mão de Salatiel começou a sangrar.

Efeito negativo: Sangramento lvl 1, o alvo perde 3 de hp por turno até que a ferida seja tratada.


Hp total: 92

Uri acordou assustado. Ele estava começando a melhorar, e então, um pesadelo desses? Só podia ser uma maldição. Sentiu seu rosto molhado, estava chorando, e não só isso, havia suado. Ele teria que superar uma hora, certo? Essas lembranças não o perseguiriam para a vida toda... certo? Balançando a cabeça para "espantar" esses pensamentos, o garoto se levantou e pôs-se a procurar a sacerdotisa, mas não a encontrou, nem as crianças. Decidiu então, que era melhor sair e checar. Do lado de fora, encontrou a elfa cuidando das plantas, e as crianças estavam juntas. Logo, o meio coelho se aproximou e perguntou.

- Posso ajudar em algo?

A sacerdotisa o pediu para regar as plantas, e enquanto as regava cuidadosamente, questionou qual tarefa ela tinha para ele caso ele quisesse ir.

"Tenho um pergaminho que me foi dado por nosso deus em pessoa e que precisa ser entregue a Levi, a deusa da água."

O garoto ficou curioso. Não conhecia Levi, nem se quer sabia onde ela estava.

" Não precisa se preocupar, ela está sempre em seu templo, a única parte difícil dessa missão é a distancia, o templo de Levi fica em Salmeria."

Salmeria... ? Ele realmente não conhecia esse "mundão hostíl", como diria Jerry. Viu a sacerdotisa entrar no templo e voltar, mostrando a ele um mapa. Era uma distância enorme, mas Uri não se preocupou com isso, ele estava curioso para ver os lugares onde teria de passar. Enquanto pensava o quão interessante (e perigoso) seria, a elfa lhe entregou um manto para que não virasse alvo das flechas dos elfos na floresta, e o pergaminho que precisava entregar.

- Obrigado por tudo. - Uri falou. - Eu entregarei a ela, com certeza.

O semi-humano então, dirigiu-se ao templo e arrumou suas coisas. Colocou o manto que recebeu sobre a cabeça, e pegou sua mochila e dirigiu-se até a saída. Havia decidido que iria pela floresta, e após algum tempo olhando feio para os guardas élficos, saiu da cidade. A floresta tinha uma vegetação exuberante, mas Uri não teve muito tempo para admirar. Ouviu barulhos nas folhas, lembrando que haviam sentinelas naquela área. Andando mais um pouco, notou que havia alguém no caminho. Um garoto ruivo, os olhos verdes. Notou também várias flechas no chão, e que a mão do ruivo pingava sangue. A panturrilha do garoto também não parecia em bom estado. Uri ficou confuso, se ele intereferisse, mesmo com o manto, talvez virasse alvo. Decidiu avaliar a situação antes. Não sabia quem era o garoto, nem o porquê de ele estar sendo atacado. Podia ser um criminoso, certo? Escondeu-se no arbusto mais próximo, antes de tomar qualquer atitude.

Mais uma vez, seus planos foram um fracasso. Graças a um novo atirador, Salatiel estava perfurado novamente, dessa vez, na panturrilha, o fazendo cair no chão. Aquele lugar estava cada vez mais perigoso.

Cansado de arriscar a sua vida, o ruivo decide esconder-se e achar alguma forma de se recuperar temporariamente daqueles ferimentos antes de fugir feito um belo covarde.

Esforçando-se ao máximo, o demônio entra dentro de um arbusto mais uma vez, mas para a sua surpresa, encontra um jovem de cabelos loiros que parecia estar assistindo a sua desgraça.

Não sabia quem era aquele ser, mas, ele não queria continuar arriscando a sua vida. Com rápidos movimentos, o ruivo fica por cima do loiro e usa a flecha que tirou de sua mão para ameaçar o jovem.

- Você vai me atirar flechas também? - diz o ruivo fala em um tom baixo.

O semi-humano observava atentamente o que acontecia de dentro do arbusto, e enquanto pensava se deveria intervir, notou que o ruivo entrou no arbusto. Encarou o outro por alguns segundos sem reação, até que foi jogado no chão.

"Você vai me atirar flechas também?"

Uri encarava o ruivo quando ele lhe fez a pergunta, ele estava realmente passando por aquilo? Estava realmente sendo ameaçado por um cara de pijamas, que estava apontando uma flecha pra ele?

- Tire suas mãos de mim... - Uri falou, puxando sua adaga que estava presa na calça e colocando-a contra a barriga do ruivo. - Ou eu abro um buraco em você.

O ruivo fica surpreso por sua falta de cuidado quando percebe que tinha algo pronto para perfurá-lo em sua barriga. Nesse momento, ele deixa de tentar atacar o loiro, saindo de cima dele.

- Bem, não vai ser necessário. - O demônio põe a flecha em um dos bolsos de seu pijama. - Desculpe-me a péssima apresentação. Me chamo Salatiel. Nome ruim, não? - ele ri.

Ser assim gentil com um desconhecido poderia ser mais um fracasso para o demônio, mas, ele iria, mais uma vez, se arriscar.

Uri observa o ruivo, surpreso, sair de cima dele. Era uma boa decisão a ser feita, embora Uri não tivesse vontade de sair ferindo pessoas aleatórias, ele não gostava de ser ameaçado. O semi-humano observou o outro garoto guardar a flecha no bolso de seu pijama. Aliás, que roupas eram aquelas? Ele estava no meio de uma floresta élfica de pijama?

"Desculpe-me a péssima apresentação. Me chamo Salatiel. Nome ruim, não?"

Uri encarou o ruivo enquanto ele ria da própria desgraça. Que nome era aquele? Ele ainda segurava a adaga, mas decidiu se apresentar, não tinha nada a perder mesmo.

- Uri. - Falou, curto e grosso. - Por que você virou alvo dos elfos mesmo?

Já que estava abaixado e escondido da visão dos sentinelas, ele se sentiu a vontade para deixar as orelhas para fora do manto, já estava com calor.

O loiro o encarava, para uma aparência daquelas ele parecia bem sério. Mas, Salatiel não parecia se importar tanto. Manter o bom humor sempre é bom.

"Uri."

A forma com que ele foi duro deixou o demônio surpreso, algo que era notável pelo modo que suas sobrancelhas levantaram. Instantes depois, foi questionado sobre o motivo de estar sendo atacado pelos elfos.

- Então aquelas coisas são elfos? - o ruivo coça as bochechas por um momento. Respondeu quando tinha uma mentira aceitável. - Eu estava vagando por aqui, porque adoro ver lugares novos. E, as coisas novas que descobri foram flechadas em meu corpo. - Foi mais uma distorção da verdade.

O demônio estava com problemas até para mentir.

Tudo parecia bem até o rapaz tirar o manto, o que deixou exposto um par de orelhas de coelho da mesma cor dos cabelos de Uri.

- I-Isso... são orelhas?! - Salatiel ficou encarando aquelas coisas por bastante tempo. Maravilhado. Em todos os seus anos de vida e pós-vida, era a primeira vez que via algo desse tipo.

Uri ainda encarava o ruivo, pensando em como sairia daquele arbusto sem ser seguido, quando recebeu uma desculpa esfarrapada.

"Eu estava vagando por aqui, porque adoro ver lugares novos. E, as coisas novas que descobri foram flechadas em meu corpo."

O meio-coelho levantou uma de suas sobrancelhas, cético. Ele estava no meio da floresta élfica, de pijama. Era claramente uma mentira, só um idiota acreditaria nisso.

- É mesmo? - Uri suspirou. - Vou fingir que acredito.

Após tirar o manto e libertar suas orelhas, notou que o garoto parecia chocado. Ele nunca havia visto alguém assim?

- Sim. Orelhas. Por que a surpresa?

O jovém meio humano havia sido atacado por algum tipo de doido, um garoto ruivo, com uma flecha em sua perna e um buraco em sua mão. Dizia que estava apenas se aventurando quando começou a ser alvejado por flechas misteriosas, oque não era uma mentira, já que o mesmo acabará de sair do inferno e estava em um lugar totalmente desconhecido para ele.

O demônio estava tentando usar de todos os seus artifícios para enganar Uri, porém, estava enferrujado, não conseguira inventar nada convincente o suficiente para ganhar a confiança do coelho. As coisas entre eles estavam começando a ficar cada vez mais tensas, quando perceberam estar cercados por no mínimo quinze sentinelas que apontavam seus arcos para eles. Um elfo de cabelos prateados se aproximou dos dois desarmado e disse:

- Meio-humano, por estar vestindo o manto do templo eu e meus homens não temos permissão para ferir você ou qualquer outra pessoa que lhe seguir, peço que mostre a prova de que segue ao deus da terra. – Uri sem saber muito o que fazer tirou o pergaminho da mochila e mostrou para o Elfo. – Desculpe incomoda-lo senhor, mas não podemos permitir que gente da raça dele profane nossas terras. Caso ele esteja lhe importunando eu me disponho a dar um jeito nele.

O elfo falar em voz solene e firme, não era alguem com quem se deveria brincar. Uma resposta urgente era necessária e qualquer movimento estranho da parte de Salatiel poderia por um fim em sua vida. O demônio estava nas mãos do meio humano que acabará de conhecer, uma ironia do destino, mal chegou em Airem de novo e podia morrer novamente.

Uri se assustou com a aproximação dos sentinelas. Imaginou que ao lado de um alvo, se tornaria um também, com ou sem o manto. Os arcos apontados para ele, de todos os lados, faziam sua cabeça doer. Talvez fosse o medo? Provavelmente. Já pensava em como iria fazer para sair correndo, quando um elfo se aproximou, desarmado.

"Meio-humano, por estar vestindo o manto do templo eu e meus homens não temos permissão para ferir você ou qualquer outra pessoa que lhe seguir, peço que mostre a prova de que segue ao deus da terra."

Uri sentiu um alivio súbito. Abriu sua mochila e puxou o pergaminho que lhe tinha sido entregue. Mostrou ao elfo, e sentiu que não seria mais um alvo.

"Desculpe incomoda-lo senhor, mas não podemos permitir que gente da raça dele profane nossas terras. Caso ele esteja lhe importunando eu me disponho a dar um jeito nele."

Ele olhou para o ruivo. "Gente da raça dele"? O que aquilo queria dizer? Ele não queria perguntar, não naquele momento, e não para aquele elfo. O que ele faria? Deixar o garoto para morrer? Ele já sabia o que "dar um jeito" significava a essa altura.

- A-ahn... Pode deixar comigo. - Uri falou, puxando sua adaga e colocando contra a garganta do ruivo. - Eu vou tirar ele daqui e... dar um jeito nele. Não quero sujar sua floresta com o sangue dele.

Ele esperava que o ruivo não reagisse, porque se o fizesse, teria realmente que dar um jeito nele.

Salatiel sentiu seu coração acelerar quando os sentinelas os encontraram. Dessa vez, imaginava que aquela era a sua morte.

"Meio-humano, por estar vestindo o manto do templo eu e meus homens não temos permissão para ferir você ou qualquer outra pessoa que lhe seguir, peço que mostre a prova de que segue ao deus da terra."

Com essas palavras, o elfo acalmou o demônio.

"Desculpe incomoda-lo senhor, mas não podemos permitir que gente da raça dele profane nossas terras. Caso ele esteja lhe importunando eu me disponho a dar um jeito nele."

Por pouco tempo.

Salatiel pensou por um momento que o loiro não faria nada muito violento com a sua pessoa, até que a adaga dele foi posicionada contra sua garganta. Para sua própria segurança e por medo, não abriu a boca para dizer uma palavra.

"Eu vou tirar ele daqui e... dar um jeito nele. Não quero sujar sua floresta com o sangue dele."

O ruivo virou seu olhar diretamente para os olhos do garoto com orelhinhas de coelho, que estava mais parecendo um assassino que uma coisinha fofinha.

Uri notou pelo olhar dos elfos que já podia sair dali. E ele levaria o ruivo só para ter certeza que ele continuaria vivo, sendo quem fosse.

- Vamos logo. - Falou, ainda na frente dos elfos, levantando-se e puxando o outro, ainda ameaçando-o com a adaga. - Não tenho o dia todo.

Seguiu por uma trilha que havia visto na floresta, e após alguns metros de distância dos sentinelas, sussurrou para o ruivo, lembrando que haviam mais espalhados por toda a floresta.

- Acho melhor você estancar esse sangramento na sua mão. - Começou. - Estaremos fora da floresta daqui a pouco.

(Vou continuar no Rio das lágrimas.)